Ele sentado. Chega ela e se senta bem ao lado dele.
- E por que pergunta?
- A viagem é longa.
- Qual o nome daquele ali então?
- Hãn?
- A viagem é longa pra ele também, ué! Perguntou o meu, mas não perguntou o dele que já tava aqui antes? É porque ele é negro? Te pareceu gay?
- Não, não! Calma lá, foi só de preguiça mesmo.
- Então não foi porque a viagem é longa. Temos um mentiroso ou um racista? (Ela agora soltando uma risada, mais interna do que externa)
- Ok. Você me pareceu legal...
- E como é “parecer legal”?
- Sei lá...
- Sei lá?
- Escuta: você é assim com todo mundo que pergunta seu nome, ou nunca perguntaram seu nome? Acho que é mais fácil descobrir a cor da cueca do Papa; Eu, hein...
- Não, não... É só que você é meio assim: distinto.
- Ah então eu sou distinto? E como é isso?
- Não dá pra explicar.
- E é um distinto bom ou um distinto ruim?
- Não sei ainda... Ei, você é inseguro, hein?
- Confesso que sim. Você é meio...
- Eu gosto de gente insegura... (Ela o interrompe)
- Você gosta de gente insegura e eu te achei maluca. Gosto de gente maluca.
- Como assim!? Eu sou maluca? (Ela o interrompe e deixa claro, pelo olhar, que estava adorando aquela situação)
- Assim ué: vem aqui, chega e faz todas essas estranhices. (a viagem estava por acabar).
- É, engraçado mesmo...
- Ei, qual a chance de ao acaso você ter sentado ao meu lado e essa maluquice estranha acontecer? Estranho o que o destino faz, não?
- E quem disse que eu sentei aqui por acaso? (“Bobinho”, pensou ela)
(Um pequeno momento de silêncio)
(Um pequeno momento de silêncio)
- Então... Me passa seu número, as vezes a gente toma uma cerveja depois.
- Melhor não.
- E qual seu nome? Pelo menos isso...
- Melhor não, vai me achar no Facebook. Vamos fazer assim: me passa o seu número. Quem sabe seu telefone não toca e é um número que termina em 42? Igualzinho o meu? (Soltando um sorriso malicioso)
"Que a boca que me beije não seja tola. Não espero que o corpo que me alente seja imaculado. Dela não a genialidade, mas que por banalidades não se desvie. Que risadas por mim arrancadas sejam sinceras. Que as almas se encontrem por acaso. Que os corpos se encaixem mas que as cabeças se completem. Que a vida seja generosa, mas que ela não nos torne tontos..."
Uma simples conversa e ele, tão mecânico uma vez, era agora ele e uns pedaços pequenos de alguém. Ele e um monte de novas perspectivas que a mente criara. E a história dele acaba aqui. Ou começa aqui. Ou começa depois do telefonema que ele vai receber. Ou do telefonema que ele não vai receber.
É impressionante o que as mulheres têm. Uma dominação nata. Uma capacidade incrível de imputar dúvidas na gente. Corte o cabelo, e ela, por menor o vinculo contigo, irá reparar. Dizem que na antiguidade os homens caçavam. Se caçavam, estavam no lugar errado. São elas, mulheres, caçadoras natas, olhos de lince e personalidade impiedosa. Elas nos escolhem, brincam com a gente. É pena que por tanto, por força, tenham, um dia, ido para um segundo plano. Fico pensando em quantas mulheres no passado criaram coisas, escreveram ideias e só as coube, repassá-las aos seus maridos. De fato nós movemos o mundo. Mas elas movem algo muito mais importante: elas movem quem move o mundo.